quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cartão vermelho-coreano

Quatro agentes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e inspetores do governo dos EUA, encarregados de fiscalizar o programa nuclear norte-coreano, foram expulsos da Coréia do Norte, nesta terça-feira (14). Isso porque, para a ONU, o lançamento do foguete coreano Taepodong-2, no último dia 4, foi uma afronta às resoluções aprovadas pelo seu Conselho de Segurança. Tais resoluções proibiam a realização de "qualquer teste nuclear" e o lançamento de mísseis balísticos. Diante da afronta, a ONU aprovou uma represália contra a Coréia do Norte. O texto condenou o lançamento do foguete e reiterou a ordem para que a Coréia do Norte não realize mais lançamentos e "abandone todas as armas e programas nucleares existentes de uma forma total, comprovada e irreversível". O governo norte-coreano afirmou que a expulsão dos agentes fiscalizadores foi uma resposta à "injusta" represália aprovada pela ONU, uma vez que, segundo a Coréia do Norte, o foguete Taepodong-2 foi lançado com o intuito de instalar um satélite experimental de telecomunicações em órbita.

Por trás de toda a confusão instalada com expulsões e represálias, reside um ponto a ser observado: a credibilidade da ONU na manutenção do equilíbrio político e diplomático do mundo. Não pode ser vista com naturalidade a expulsão de agentes inspecionadores enviados por um órgão que representa a diplomacia entre as nações. De fato, esta diplomacia se mostra cada vez mais representativa e esse caso na CN é apenas mais um na extensa lista de descumprimentos de ordens e sanções estabelecidas pela Organização das Nações Unidas. Posto que alguns (poderosos) países têm poder de veto, e, consequentemente, defenderão seus interesses sempre que necessário, o tão importante equilíbrio político entre as nações torna-se mais uma utopia idealizada pelos oprimidos e "romancistas sociais".

Aos meros mortais, cabe a indignação e a dúvida de até quando as dinâmicas sociopolíticas e econômicas do mundo serão conduzidas por uma minoria egoísta, que leva à risca os ensinamentos capitalistas e esquece de assistir às questões humanas e cidadãs do nosso planeta.

Uma outra questão a ser refletida é o confronto entre o comunismo anacrônico do Norte e o capitalismo desenvolvimentista do Sul. O primeiro insiste em adotar políticas econômicas obsoletas, totalmente desajustadas em relação à ordem econômica do mundo, dando importância para o aprimoramento do poderio bélico e esquecendo questões sociais do seu povo, que sofre com a fome e a falta de educação. O segundo, por sua vez, vive uma fase de ascensão, contando com investimentos em políticas sociais e uma economia moderna, possibilitando aos sul-coreanos condições dignas de vida.

É preocupante a cegueira ideológica de determinados governantes, cujas ações interferem na vida de tantas pessoas inocentes. Desprezando os conceitos de afirmação da soberania territorial e política utilizados como justificativas para os investimentos bélicos, a única explicação plausível para tantos gastos com armas é o lucro gerado no comércio de equipamentos de guerra. É aí que está a grande contradição dos países ditos comunistas atualmente, que esquecem os conceitos de igualdade social e norteiam suas medidas financeiras em busca de lucros que não são transferidos para a população.

4 comentários:

  1. A descrença na organização responsável pela diplomacia entre os paises demonstra o seu caráter meramente ornamental. De fato foi formada com o único objetivo de demonstrar uma falsa amistosidade entre as nações. A posição tomada pela Coréia do Norte exprime a fragilidade e ilegitimidade da ONU no que se refere à regulamentação das políticas de segurança nacional. É inadmissível que um país, no século XXI, não sofra fortes represálias após violar acordos que zelam pela paz mundial.

    ResponderExcluir
  2. É triste perceber a existência da soberania capitalista no mundo e a única solução dos países "comunistas" ilegítimos: se utilizar do poder bélico para se resguardar. Que comunismo distorcido...
    Muito bom o texto, Gabi!
    Bela análise!

    ResponderExcluir
  3. Concordo plenamente que o comunismo distorcido da CN do norte é anacrônico e não pertence a realidade que vivemos, mas é sempre válido questionar até onde vão as ambições desregradas do capitalismo que tem uma esssencial irracional. Acho que um modelo econômico mais humano só existirá se analisarmos a fundo e sempre comparar-mos os prós e os contras dos sistemas vigentes, como sempre foi feito ao longo da história. Essa é na minha opinião nossa dívida espiritual com nossos ancestrais evolutivos que buscaram tornar melhor o dia de amanhã.

    Entretanto, voltando ao tema inicial; não foi provado que o foguete lançado pelo governo norte coreano não passava de um mero satélite. Será impossivel, por hora, descobrir quem fala a verdade. Contudo este questionamento nos leva a uma nova ótica da situação, na qual as resoluções do conselho de segurança da ONU (com toda sua "credibilidade") poderiam estar se valendo desse poder para restringir o desenvolvimento tecnológico da CN.

    Como sempre no cenário internacional as cenas dessa novela vão perdurar por algum tempo e estaremos atentos para malhar nossas mentes.

    Massa a iniciativa mão!
    Clara e ácida a sua análise, abraço!

    ResponderExcluir
  4. A respeito da credibilidade da ONU, ela não está mais em questão há muito tempo.

    Por parte da Coréia do Norte, é mais um tiro no próprio pé, visto que sofrerá as consequências da comunidade internacional.
    Como já se não bastasse o embargo a Cuba, - dito ter sido retirado - teremos mais um na lista dos isolados.

    ResponderExcluir