quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fidel afiado


O ex-presidente cubano, Fidel Castro, acusou nesta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de mentir para justificar a manutenção do embargo imposto à Cuba desde 1962 e de prosseguir com as políticas de seu antecessor, George W. Bush, em relação à ilha. Fidel também descartou qualquer possibilidade de introdução de uma "democracia capitalista" na ilha, mostrando-se descrente por mudanças na conjuntura política e econômica do país. Além disso, o ditador cubano definiu como delírio a discussão sobre o fim do embargo à Cuba e ironizou a abordagem desse assunto pela 5ª Cúpula das Américas. Essas críticas foram feitas por Fidel através de artigos publicados no Cubadebate, site destinado a discussões e troca de informações sobre a ilha.


É inegável a existência de uma atmosfera otimista em relação ao governo de Obama, repleta de esperanças e especulações acerca das decisões que serão tomadas por ele, capazes ou não de "resolver o problema do mundo". Evidente que tais decisões repercutirão na dinâmica político-econômica do planeta, mas o super-presidente idealizado como "salvador da Terra" está bem longe de se tornar real. As afirmações de Fidel servem como um alerta, pois líder cubano que é, possui credibilidade suficiente para afirmar sobre a manutenção de um embargo econômico tão significativo. Obama está, sim, exercendo uma política agregadora e amistosa, a fim de substituir a tirania do governo Bush por uma diplomacia que preza pela democracia nas decisões comerciais e políticas. Por outro lado, vivemos em um mundo essencialmente capitalista e é esperado que os EUA, maior potência mundial, defendam seus interesses econômicos e busquem - mesmo que discretamente - a manutenção do posto hegemônico de mediador das relações internacionais e líder das dinâmicas e dos lucros comerciais.

A expectativa por mudanças no mundo é algo cultivado por todos nós. Acredito que estamos caminhando, primeiramente, para mudanças ideológicas nas relações entre as pessoas e as nações. Nota-se o gradual desenvolvimento de uma consciência agregadora e cooperativa, por parte das potências dominantes, preocupadas em inserir os países periféricos nas discussões internacionais e cientes de que o desenvolvimento econômico do mundo depende diretamente desses países. Essa reciclagem ideológica é, portanto, o primeiro passo para que se trilhe mudanças efetivas na conjuntura social e econômica do planeta.

De nada adianta um super-presidente. Precisamos de líderes engajados, responsáveis, empáticos. Colocar-se no lugar do outro é um grande passo para a superação das desigualdades.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cartão vermelho-coreano

Quatro agentes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e inspetores do governo dos EUA, encarregados de fiscalizar o programa nuclear norte-coreano, foram expulsos da Coréia do Norte, nesta terça-feira (14). Isso porque, para a ONU, o lançamento do foguete coreano Taepodong-2, no último dia 4, foi uma afronta às resoluções aprovadas pelo seu Conselho de Segurança. Tais resoluções proibiam a realização de "qualquer teste nuclear" e o lançamento de mísseis balísticos. Diante da afronta, a ONU aprovou uma represália contra a Coréia do Norte. O texto condenou o lançamento do foguete e reiterou a ordem para que a Coréia do Norte não realize mais lançamentos e "abandone todas as armas e programas nucleares existentes de uma forma total, comprovada e irreversível". O governo norte-coreano afirmou que a expulsão dos agentes fiscalizadores foi uma resposta à "injusta" represália aprovada pela ONU, uma vez que, segundo a Coréia do Norte, o foguete Taepodong-2 foi lançado com o intuito de instalar um satélite experimental de telecomunicações em órbita.

Por trás de toda a confusão instalada com expulsões e represálias, reside um ponto a ser observado: a credibilidade da ONU na manutenção do equilíbrio político e diplomático do mundo. Não pode ser vista com naturalidade a expulsão de agentes inspecionadores enviados por um órgão que representa a diplomacia entre as nações. De fato, esta diplomacia se mostra cada vez mais representativa e esse caso na CN é apenas mais um na extensa lista de descumprimentos de ordens e sanções estabelecidas pela Organização das Nações Unidas. Posto que alguns (poderosos) países têm poder de veto, e, consequentemente, defenderão seus interesses sempre que necessário, o tão importante equilíbrio político entre as nações torna-se mais uma utopia idealizada pelos oprimidos e "romancistas sociais".

Aos meros mortais, cabe a indignação e a dúvida de até quando as dinâmicas sociopolíticas e econômicas do mundo serão conduzidas por uma minoria egoísta, que leva à risca os ensinamentos capitalistas e esquece de assistir às questões humanas e cidadãs do nosso planeta.

Uma outra questão a ser refletida é o confronto entre o comunismo anacrônico do Norte e o capitalismo desenvolvimentista do Sul. O primeiro insiste em adotar políticas econômicas obsoletas, totalmente desajustadas em relação à ordem econômica do mundo, dando importância para o aprimoramento do poderio bélico e esquecendo questões sociais do seu povo, que sofre com a fome e a falta de educação. O segundo, por sua vez, vive uma fase de ascensão, contando com investimentos em políticas sociais e uma economia moderna, possibilitando aos sul-coreanos condições dignas de vida.

É preocupante a cegueira ideológica de determinados governantes, cujas ações interferem na vida de tantas pessoas inocentes. Desprezando os conceitos de afirmação da soberania territorial e política utilizados como justificativas para os investimentos bélicos, a única explicação plausível para tantos gastos com armas é o lucro gerado no comércio de equipamentos de guerra. É aí que está a grande contradição dos países ditos comunistas atualmente, que esquecem os conceitos de igualdade social e norteiam suas medidas financeiras em busca de lucros que não são transferidos para a população.